"Vamos em sentido único a caminho dos tempos do Pentateuco", otro magistral artículo de Joaquim António Emídio
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Con la frontalidad y sentido crítico que le caracteriza, el director general de "O Mirante" (el mayor y mejor semanario regional de Portugal) publicaba este jueves, en las dos ediciones impresas de su periódico un magnífico artículo que no tiene desperdicio y merece la pena leer y... diríamos que saborear con calma. Dice así :
O mundo mudou desde a descoberta da internet. Jeff Benzos triplicou a fortuna em tempo de pandemia. Agora é ele que manda no mundo carregando diariamente num botão que, para nosso espanto, não é o da bomba atómica. Não vai morrer uma multidão mas vamos ficar todos com a mesma doença que há-de chegar à nossa caixa de correio, num anexo, com notícias e a hóstia da missa de domingo incluída. Tudo ao preço da uva mijona patrocinado pelas empresas dos chineses espalhadas por toda a Europa.Ser livreiro, editor ou distribuidor de livros, ter coragem para montar uma banca de jornais e de revistas, era uma actividade para malucos antes da pandemia. Com a pandemia tornou-se uma aventura quase igual à dos tempos da impressão do Pentateuco, o primeiro livro impresso com caracteres móveis em Portugal, a 30 de Julho de 1487, uma obra em hebraico, impressa por Samuel Gacon, um algarvio de origem judaica.
Os tempos que vivemos são outros mas caminhamos como há quinhentos anos num sentido único que, antes da internet, parecia impossível. A impressão de jornais e revistas está em causa com o ataque ao mercado publicitário dos gigantes da Google, Facebook e Amazon. Jeff Bezos, o homem mais rico do planeta, triplicou a sua fortuna desde que vivemos em pandemia. Enquanto isso os governos de todo o mundo vão aceitando as posições dominantes dos grandes magnatas da comunicação, que se preparam para governar o mundo carregando diariamente num botão que, para nossa grande surpresa, não é o botão da bomba atómica que nos causava tanto medo e nos fez marchar quando éramos índios, ou julgávamos que éramos.
Se uma livraria tem que fechar portas em tempo de pandemia, e não merece o mesmo estatuto que uma loja de eletrodomésticos, e ninguém faz uma procissão a gozar com esta malta, do que é que vale continuar a acreditar no Pai Natal? Se para lermos notícias e livros, que eles escolhem a seu belo prazer, temos que alimentar a fortuna do todo poderoso Jeff Benzos, do que é que vale mantermos abertas as igrejas e os hábitos de irmos tomar a hóstia ? Só não respondo à pergunta porque este texto não é uma rendição: é um apelo à revolta. - JAE.