Com graus diferentes de confiança, quatro médicos ouvidos pelo Jornal de Notícias concordam que Portugal terá de retomar a atividade económica, desde que haja condições para continuar a manter sob controlo a disseminação da Covid-19.
Esta terça-feira o Governo ouve epidemiologistas, amanhã os partidos e, na quinta-feira, aprovará um plano para a reabertura da economia.
Do que já se sabe dos planos de António Costa, a reabertura da economia deverá começar pelo pequeno comércio. De todas as opções, diz Carla Nunes, diretora da Escola de Saúde Pública, será a menos arriscada. "É uma reabertura local, de proximidade", que evita deslocações que potenciariam a disseminação da doença. Este "teste controlado" à reação da doença só deverá avançar se a propagação for vigiada de perto. "Estamos no bom caminho, mas os números não me deixam descansada. É impossível prever o impacto" da reabertura da economia.
Os números de mortes e internamentos estão controlados, mas continuam no nível em que estavam quando o último estado de emergência foi decretado, lembra Ricardo Mexia, da Associação de Médicos de Saúde Pública. Por isso, uma reabertura deve ser acompanhada por medidas para controlar a propagação. "Não vejo grandes resultados: ainda há muita gente na rua sem máscara", exemplifica. Mas, acrescenta, "numa semana e meia muito pode ser feito".
Ou, em alternativa, deveria esperar-se mais uma ou duas semanas, recomenda Fernando Maltez, do serviço de Infecciosas do Curry Cabral: "Ficava mais tranquilo, ainda nem dois meses de confinamento temos". Portugal ainda não testou a imunidade da população e estudos mostram que três meses de isolamento reduzem com significado a hipótese de uma nova vaga.
No fundo, resume Filipe Froes, dos Cuidados Intensivos do Pulido Valente, a economia só poderá reabrir mediante três condições: supressão da atividade viral na comunidade, instrumentos para diagnosticar com rapidez novas infeções e capacidade do Serviço Nacional de Saúde. "Todos teremos que cumprir procedimentos básicos para que não morramos na praia".
Os partidos concordam com a reabertura da economia assim que possível, mas garantindo que quem necessita continua a ser apoiado.
Para o Bloco de Esquerda, a data deverá ser decidida pela saúde pública mas, nessa altura, deve ser "garantida a proteção social das famílias" que continuem a ser atingidas pela crise pandémica. Até lá, o emprego deve ser a prioridade.