O SNS, as leituras subversivas, o caminho de ferro em Alhandra e o que vai rio abaixo.
JAE
Confesso que tive a semana mais espectacular dos últimos tempos e não saí dos mesmos caminhos dos últimos anos. Bastou começar a olhar mais para o lado do que para a frente e vi novas paisagens, conheci outras gentes e fui desafiado a meter-me em novas aventuras. Finalmente vou construir uma casa na árvore, dormir a sesta mais vezes e ler todos os livros que tenho em atraso. A minha máxima continua a ser inspirada em Sócrates, o filósofo: ler e aprender até morrer. “O que está presente lembra-te de organizar, sereno; as restantes coisas ao modo de um rio são levadas”.
Talvez por andar mais atento e a olhar para o meu umbigo registei o facto de esta semana, no mesmo dia, ter sido enganado nas contas em dois supermercados diferentes. Num comprei duas pastas de dentes e facturaram três e noutra comprei quatro garrafas de água de marca branca que foram facturadas ao triplo do preço que estavam marcadas. Só dei pela última já que na primeira estava na conversa com um amigo que não encontrava há muitos anos.
Para quem gosta de literatura subversiva recomendo o livro de Virginie Despentes, “Teoria King Kong”, e para quem aprecia um bom romance a leitura de “A Valsa do Adeus”, de Milan Kundera. Foram duas das leituras desta semana cheia de boas surpresas, incluindo a chegada do Outono que é a estação em que me encontro na vida. Lembro-me de ter 30 anos e perguntar que eternidade me faltava viver para chegar aos 60, ou aos 70, e já cá estou e nem dei por isso.
Fui ao teatro e só gostei da interpretação. É difícil escrever para representar e são poucos os escritores que sabem do ofício. Se vivesse no Porto tinha mais sorte; o Teatro São João teve em palco “A promessa” e “O pecado de João Agonia”, duas peças de Bernardo Santareno, o dramaturgo português mais significativo do século XX, que devia estar sempre presente na vida cultural da cidade de Santarém.
Esta semana atravessei-me por uma pessoa que disse que gostava de apresentar aos vilafranquenses uma proposta que resolve muitos dos problemas da quadruplicação da linha de caminho de ferro que tem provocado algumas manifestações populares. O projecto foi desenhado há muitos anos e quem o fez não quer perder a face nem que para isso tenha que subir as escadas do inferno. A resposta de quem organiza as manifestações foi a mesma que os manifestantes estão a receber dos responsáveis pelo projecto. Quando não é o Governo que pode e manda são os partidos que se fecham nos seus interesses ideológicos e os seus militantes nas suas obsessões partidárias; a esquerda vai pagar caro em Portugal a incapacidade para perceber que a ideologia já não faz revoluções; todos juntos somos poucos para combater os interesses instalados, assim como os extremismos de direita e de esquerda.
As greves dos médicos e enfermeiros são uma vergonha num país onde as desigualdades crescem todos os dias e se morre na cama de um hospital por falta de cuidados médicos. Quem não pode recorrer aos hospitais privados não pode dormir descansado. O Governo herdou um Serviço Nacional de Saúde que já era. Nos últimos anos os políticos do PS e PSD têm feito o caminho e a cama aos dirigentes partidários aventureiros que querem facturar mais com o descontentamento do povo que com os seus méritos (que não têm). E vão conseguir. Todos os dias, entre os dirigentes do PS e PSD, cresce o número dos que vão para a política para se servirem e não para prestarem serviço público. Sempre foi assim, mas a coisa está a ficar preta. Valha-nos o S. Martinho que está aí à porta. - JAE.
JOAQUIM ANTÓNIO EMÍDIO
Director-geral de O MIRANTE, o maior e melhor jornal regional de Portugal