A “Ferreirinha”, a empresária de sucesso que foi também uma mãe para os mais carenciados



A “Ferreirinha”, a empresária de sucesso que foi também uma mãe para os mais carenciados

Por Miguel Louro / "Nova Portugalidade"

Nascida em Godim, Peso da Régua (Douro, Portugal), a 4 de julho de 1811, no seio de uma família abastada e ligada ao culto da vinha, D. Antónia Adelaide Ferreira, mais conhecida como “Ferreirinha”, foi uma das empresárias portuguesas mais bem-sucedidas de sempre.

D. Antónia viria a enviuvar cedo, aos 33 anos, mostrando posteriormente uma vocação para ser empresária. Deste modo, viria a liderar a Casa Ferreira, fundada pelo seu avô, Bernardo Ferreira, tendo vindo a desenvolver grandes plantações de vinha, construído armazéns, empregado um grande número de pessoas como mão de obra e expandido o negócio da família, ao adquirir outras quintas, como as de Aciprestes, Porto e Mileu e inclusive fundado algumas, de que é exemplo a de Vale Meão. Desta forma, tornou-se uma figura de renome no que toca à produção e comércio de Vinho do Porto.

A “Ferreirinha” ficaria conhecida pela enorme preocupação e carinho com que tratava as famílias dos trabalhadores das suas terras e adegas, tendo também lutado incessantemente contra a falta de apoios aos produtores nacionais por parte dos sucessivos governos, que se revelavam mais interessados em adquirir vinhos espanhóis.
 
O Marechal Duque de Saldanha, João Carlos de Saldanha Oliveira e Daun, um dos homens mais influentes do país, tinha intenções de fazer casar o seu filho com Maria de Assunção, filha da “Ferreirinha”, tendo a mãe recusado a proposta. D. Antónia viajaria para Londres, onde acabaria por tornar a casar, desta vez com José da Silva Torres, um dos administradores da sua empresa.
Após retornar a Portugal, viria a sobreviver em 1861 ao naufrágio do barco onde seguia, na zona do Cachão da Valeira, que viria a vitimar um dos seus amigos mais próximos, o Barão de Forrester.

Em 1868, a grande quantidade de vinho produzida levaria a uma saturação do mercado, deparando-se os viticultores com produções que não eram capazes de escoar. D. Antónia compraria então uma grande quantia do vinho produzido a preços baixos, sendo capaz de, simultaneamente, ajudar os produtores em dificuldades e adquirir grandes reservas do produto para o futuro. Dois anos depois, a praga de filoxera viria a destruir grande parte da produção, fazendo com que muitos produtores não tivessem vinho para vender, sendo assim D. Antónia capaz de recuperar o investimento e aumentar a sua fortuna.

Numa tentativa de que a quintas do Douro se mantivessem em mãos portuguesas e não fossem adquiridas por empresários ingleses, a “Ferreirinha” viria a adquirir uma grande quantidade de quintas, vindo mais tarde a devolvê-las a um preço simbólico ou, em alguns casos, sem qualquer retribuição, aos antigos proprietários.

Quando, em 1880, enviuvou pela segunda vez, D. Antónia envolveu-se ainda mais em obras de benfeitora, tendo apoiado a construção dos hospitais de Vila Real, Régua, Moncorvo e Lamego, bem como outros asilos, corporações de bombeiros e Misericórdias.

D. Antónia Adelaide Ferreira, a eterna “Ferreirinha”, destacou-se ao longo da sua vida como uma empresária de sucesso, inteligente, trabalhadora e respeitada por todos, mas sempre sem deixar de parte o seu lado humano e solidário junto dos mais necessitados.

Aquando da sua morte, a 26 de março de 1896, aos 84 anos, o jornal “Primeiro de Janeiro” escreveria que partira a “mãe dos pobres, como lhe chamavam na sua linguagem simples a gente do povo”.
A Família Real, o Núncio Apostólico e várias outras altas entidades prestar-lhe-iam a devida homenagem, tendo o seu cortejo fúnebre sido acompanhado por 95 padres e milhares de pessoas que acompanharam o corpo até ao cemitério da Régua.
Os jornais do Porto relataram que as pessoas se ajoelhavam à passagem do caixão que continha a “Ferreirinha”, numa “última homenagem do seu respeito à nobilíssima dama que fora mãe carinhosa de tantos desgraçados aflitos”.