Portugal. "Tauromaquia: uma “nova” realidade, um “velho” problema agravado"

Un interesante artículo, un buen análisis, sobre el actual momento de la Tauromaquia portuguesa, escribió hoy en el site "Naturales", su directora, Patricia Sardinha. Bien construido, bien explicado, el relato nos lleva a la preocupación existente en el medio taurino, donde la Covid-19 no solo es amenaza latente -como en muchos otros sectores- sino agravada por la serie de particularidades específicas que al sector atañen.
Con la debida venia, pasamos a reproducir -por el interés indudable que tiene- el artículo de Patricia Sardinha, la actual directora y editora de "Naturales". La foto que ilustra este post es del siempre admirado amigo y brillante fotógrafo, Pedro Batalha.
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Aquilo a que agora muitos chamam de “nova normalidade”, fase de adaptação e “convivência” com o malvado vírus, e da qual a alteração mais visível será a obrigação do uso de máscara em espaços públicos, “mascarou” também a forma como o espectáculo tauromáquico se produz.

Entre muitas outras medidas, diz quem já viu, que agora as cortesias são com a apresentação na arena de um a um dos intervenientes; que na trincheira só ficam os elementos necessários à coadjuvação do ofício de quem esteja naquele momento na arena; que a lotação de uma praça será no máximo de 50% (o que para muitos tauródromos significa nem abrirem este ano face à limitante ocupação); que os forcados têm que se submeter de véspera ao teste à Covid-19 sempre que haja corrida onde participam; e que se acabaram as voltas à arena após as lides (esta medida por um lado tem uma parte boa, é que agora não há cá os passeios ao ruedo sem serem merecidos); e até há uma regra que impõe (enquanto a IGAC e DGS não reconsiderarem e abrirem algumas excepções) que os fotógrafos taurinos não estejam na trincheira mas sim nas bancadas, o que pode facilitar o objectivo de alguns, que é fotografar as bonitas e os famosos da assistência...

Esta é pois uma nova realidade do espectáculo tauromáquico que, esperemos, se reflicta também na arena, já que o defeso foi longo para os nossos artistas e isso presume uma maior preparação, logo melhor desempenho… Ok, sonhar não custa!

Mas com estas regras, e a autorização para que os espectáculos tauromáquicos pudessem finalmente (re)ver a luz de 2020, começaram a surgir aos poucos, os anúncios de festejos taurinos que irão compor uma temporada já tardia e curta.

No entanto, esta pandemia virá agravar um dos problemas de que mais padecia a nossa Tauromaquia.

Se alguns de nós sempre apontámos nos últimos anos, pouco apoio ao Toureio a Pé em Portugal mas principalmente, aos jovens que aspiram praticar essa arte, pior cenário veremos agora, com a parte equestre a dominar mais que nunca o pouco que haverá de temporada em 2020.

Perante todas estas condições e regras mas principalmente, uma lotação a meio gás, que empresário terá a coragem de organizar novilhadas, que apesar de muitas vezes saírem “baratas”, não compensam o trabalho e os gastos, perante um público que na maioria das vezes não acorre a este tipo de festejo?!

Com o Agosto a começar, e com tanto que se lamentaram os cavaleiros do que não tourearam em 2020, virão agora muitos cartéis de seis, de interesses, das trocas… Mas os nossos novilheiros, sem voz para se fazerem ouvir neste meio, a esses não valerá a pena chorarem ou acorrentarem-se, pois terão muito provavelmente que esperar por 2021 (assim “bicho” nos deixe), para continuarem a pôr em prática na arena as suas aptidões toureiras e rascunhos de um sonho.

Já houve, felizmente, quem descortinasse realizar este ano, corridas mistas com matadores portugueses, e louvo a intenção, já que segundo os empresários de 2 ou 3 desses “projectos”, irão dar primazia aos nossos toureiros, independentemente da força que o cartel possa a não vir ter, sem uma figura vizinha… Portanto duas ou três mistas serão, para já, garantia em 2020.

Mas novilhadas? Humm… Talvez surja uma ou outra de data mais tradicional mas pouco mais, a não ser que se dê o milagre de, no meio de tanta inovação com as regras face à Covid-19, também se invente alguma forma de promover o toureio a pé no nosso país este ano.

Até lá, valham-nos as Escolas de Toureio e alguns ganaderos que abrem as suas casas e pracinhas de tentas, permitindo dessa forma o prorrogar do sonho destes pequenos artistas que poderão dar continuidade ao futuro do toureio a pé em Portugal.

Só que na realidade, não serão apenas os novilheiros a sofrerem falta de apoio este ano, pois muitas destas novilhadas intercalam jovens cavaleiros amadores e praticantes, e também esses poderão ficar “a ver navios” esta temporada.

E sem promoção aos jovens valores, não precisamos de nenhum vírus para acabar com a Festa Brava em Portugal… ela acaba-se sozinha.

Patrícia Sardinha

Imagen de Pedro Batalha