Há
muito desvirtuada a máxima de que o toureio é um mundo exclusivo de
homens, as mulheres ganharam presença em praticamente todos os sectores
da tauromaquia. Uma delas, Catarina Bexiga, foi pioneira há 25 anos na imprensa taurina em Portugal,
um meio onde ela é sem sombra de dúvidas, a maior referência nacional
para todas as outras mulheres (e até homens) que lhe seguem o exemplo.
No Dia da Mulher,
entendemos dedicar-lhe espaço fazendo honra ao seu brilhante percurso
como crítica taurina mas principalmente, como mulher num meio
maioritariamente de homens.
CATARINA BEXIGA NA 1ª PESSOA
A minha afición nasceu devido... à afición dos meus pais. Mas também não é alheio o facto de ter nascido em Vila Franca de Xira e ter crescido em Arruda dos Vinhos. Duas terras cuja Festa de Toiros faz parte da sua identidade cultural.
25 anos como crítica taurina têm... por
um lado, sido vividos com muita intensidade; por outro lado, se
compararmos com os “gigantes” da critica taurina, não é nada! Só para
referir dois exemplos. O Manolo Molés leva mais de 50 anos a escrever de
toiros e o João Queiroz mais de 40. Mas são 25 anos de aprendizagem. 25
anos a ler e a ouvir quem sabe. 25 anos de crescimento. 25 anos a
defender as minhas convicções.
O mais difícil nesta profissão tem sido... as desilusões.
E o que de melhor me deram estes 25 anos...
Os momentos mais felizes da minha vida. Realizar-me como Aficionada de
forma diferente, de forma mais directa. Mas também de conhecer muitas
pessoas e de fazer muitos amigos. Inclusive, de fazer parte integrante
de alguns eventos, etc.
Ao longo destes 25 anos vejo que o toureio a cavalo... tem
ganho estética, mas perdido emoção. Sobre esta questão, tenho por
hábito recorrer sempre a uma expressão de D. Francisco Mascarenhas “hoje
fazem-se coisas aos toiros que antigamente não se faziam; mas
antigamente também se faziam muitas coisas que hoje não se fazem”.
Sobre o toureio a pé em Portugal considero...
constato com inquietação a nossa realidade. Gostava de vislumbrar outro
caminho, de ver outras opções, outras soluções… Temos vários nomes que
merecem ser reconhecidos fora do seu país.
As minhas referências na imprensa nestes 25 anos foram... quando
comecei, a Revista Novo Burladero do João Queiroz; na rádio o Virgílio
Palma Fialho; e na televisão o Maurício do Vale. Há 25 anos atrás, a
Festa de Toiros tinha muito mais protagonismo na imprensa.
Ser mulher neste meio taurino é... ser mais uma pessoa entre os demais.
Ter sido a primeira crítica Taurina portuguesa é para mim...
não valorizar muito isso. Sempre ouvi falar na Marivi Romero, a
primeira mulher a escrever de toiros em Espanha. Esse é o nome que tenho
na cabeça. Mas sei que há quem me trate por “Marivi”.
Se pudesse mudar algo na nossa festa...
mudava muitíssima coisa. Aliás, a nossa Festa de Toiros está cheia de
vícios. Lembram-se, há uns anos atrás, aquando da elaboração do novo
Regulamento do Espectáculo Tauromáquico, da questão das voltas à arena? O
Regulamento entrou em vigor e continua tudo na mesma.
O que mais me incomoda em praça é... a falta de seriedade e exigência. Porque o toureio se perde estas duas vertentes, perde importância!
E o que mais me faz desfrutar... o bom Toureio! É o que me alimenta como Aficionada!
A Novo Burladero para mim significa...
um privilégio estar como colaboradora, acima de tudo, porque a NB fica
na história da imprensa taurina! Onde tive a oportunidade de ouvir e
aprender. Onde mais me exigiram, mas onde mais cresci!
A rádio será sempre... a
primeira paixão! Onde comecei e onde desfrutei bastante! Foram anos da
minha vida que jamais esquecerei. Ainda hoje tenho o hábito de ouvir
entrevistas antigas.
O animalismo e a perseguição anti-taurina é algo que...
me preocupa pela sua mobilização e visibilidade junto da sociedade,
sobretudo, porque se aproveitam da ignorância de muitas pessoas.
Se não tivesse sido crítica taurina, então neste meio seria... Aficionada, sempre Aficionada. Ainda é assim que me sinto.
O que falta aos agentes da nossa festa é... profissionalismo e exigência, até mais a exigência. A maioria, contenta-se com pouco!
O melhor elogio que fizeram ao meu trabalho foi... gosto de a ler!
A pior crítica...
a minha. Sou a pessoa mais exigente comigo própria. Tenho sempre a
noção de quanto podia ter feito melhor. Aliás, acho sempre que a ambição
não deve ter tecto.
A “imprensa taurina” de hoje em dia é... acima de tudo, pouco conhecedora. Mas há excepções…
O que me dá mais gozo escrever é sobre... Toureio a Cavalo! Sobre o que, nós, portugueses, representámos para o mundo. E sobre o triunfo do nosso Toureio a Cavalo.
Se os meus 25 anos dedicados à imprensa fossem um pasodoble seriam...
aquele que mais gosto é o “La Puerta Grande” interpretado pela Banda de
Música do Maestro Tejera, mas ainda não tenho louros para sair por
ela…
Se eu fosse toureira, seria... uma Figura do início do século passado! Da Idade de Oiro do Toureio!
A personalidade Taurina que mais gostei de entrevistar foi...
Sem desprimor para ninguém (porque entrevistei quase todos os nossos
toureiros), mas foi o matador de toiros mexicano Rodolfo Rodriguez “El
Pana” porque... a forma como me falou da sua história e do seu toureio,
encantou-me.
25 anos já estão cumpridos, conto cá andar... até Deus querer! Afición tenho, resistência também, paciência muita. Afición é o que me faz mover neste mundo.
NATURALES, Correio da Tauromaquia Ibérica
Fotografia: Emílio de Jesus/Arquivo
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Catarina Bexiga |